A quarta dimensão e a realidade.


A ilusão do tempo linear como um movimento contínuo do passado para o futuro, passando pelo presente, que não permanece; de um passado que desaparece e é sempre questionável e; de um futuro que não se realizou e do qual desconhecemos o que será, não deve ser motivo para questionar os sentidos, mas sim as conclusões, que ingenuamente tiramos desse mundo, percebido por instrumentos limitados.
Nossos instrumentos de contato com o mundo, nossos poderes e nossa mente simples, derivada dessas relações, são suficientes para viver, talvez mesmo, superdimensionados para a vida.
Lembremos de nossos irmãos menores, os animais, as plantas e outros seres – eles sobrevivem com muito menos que nós. Ora, nós temos o suficiente e ainda, algo mais.
Certamente, não precisamos ampliar mais nossa capacidade perceptiva ou os nossos poderes sobre a natureza. O que somos e o mundo natural em que vivemos estão prontos e não precisam de reparos, de transformação – eles servem perfeitamente ao propósito ao qual foram criados!
O nosso empenho não deve, portanto, ser para “dominar” a natureza, ou nossos semelhantes, tentando criar uma outra realidade. Essa outra realidade, como ela resulta dessa manipulação grosseira e violenta, seja a manipulação de nós mesmos e/ou da natureza, é um esforço de mudança manipulando os resultados, os sintomas, os problemas e não as causas – portanto, é uma fraude. São ações caóticas, forçadas, para obter certos resultados imediatos, sem compreender e arriscando a produzir males sem fim.
Temos instrumentos interiores, além dos sentidos físicos, não plenamente desenvolvidos, a sensação, o sentimento e o pensamento, que podem trabalhar em dimensões superiores e feitos para isso, onde, sem dúvida, os nossos sentidos e mente simples não estão construídos para ir, não importa o que se faça para isso com meios artificiais. O mundo superior, causal, inacessível pelo material, é acessível à compreensão, a qual deve ser acrescentada pelo desenvolvimento dos poderes psíquicos. Esse mundo causal é o que chamamos de invisível, intangível, inaudível – e assim, inacessível a qualquer meio material, natural ou artificial.
A ilusão do passado, da história registrada, de certos conhecimentos relativos, como coisas reais, seguras, nas quais poderíamos apoiar nossas vidas, é um erro grave. Não somente tudo o que sabemos, conhecemos, acreditamos é manipulável, e há interesses em criar certezas sobre essas coisas, mas nada do passado deve ser tomado como certo, verdadeiro e real, porque efetivamente, não é e não pode ser verdadeiro.
Fomos feitos de tal maneira que tudo, sem exceção, deve ser reconstruído em nossas mentes e apreciado imediatamente, aqui e agora. O conhecimento e a compreensão são ações diretas, sem intermediários e ocorrem sem nenhuma relação com exterior, com outros. Sua ação é fora do tempo, como uma luz, que vem desde dentro e de cima e não pode ser compartilhada.
O passado, assim como o futuro são o resultado de uma percepção parcial e incerta da realidade. A memória, os registros e a crença, apoiados nesse passado são da mesma realidade dos sonhos, sem nenhuma base real – não podem ser revividos com os instrumentos pobres que dispomos, a memória e, menos ainda, com os registros artificiais que construíram para tal (a tecnologia, a “realidade aumentada”). São coisas passadas para o mundo que podemos perceber diretamente com os sentidos, elas se foram para sempre e o que temos do passado não é, de nenhuma maneira, a realidade. Ter a vida determinada pelo passado e sonhar com um futuro mítico é se enganar e permitir ser enganado. O que passou e o que não chegou, não existe e não podemos tocar diretamente, está sujeito a fraudes, a ilusão, ao engano – isso deve ser entendido!
Essa civilização perverteu a vida e forjou meios artificiais, inadequados e impróprios para a evolução. Imaginam que podem tornar o irreal e duvidoso real e verdadeiro, através de meios artificiais, os quais, são considerados mais confiáveis que as funções humanas desenvolvidas: a consciência e a compreensão.
O acesso direto a vida é cada vez mais raro e tudo na cultura, na crença, nos valores, apontam para receber substitutos forjados, artificiais, os quais são impostos como a realidade. O vazio interior humano geral leva a buscar esses sucedâneos. O acesso direto, sem “pré-conceitos” se tornou quase impossível. E, dessa forma, todas as impressões caem na periferia, como assuntos conhecidos, semelhantes ou já conhecidos e registrados, ou seja, externos, impróprios, e assim, com aquele sabor de coisas que se opõem ao ser. Isso produz essa divisão permanente entre o eu e o mundo, de maneira que as pessoas acreditam que há um mundo além da mente.
Essa condição dicotômica, provocada artificialmente e maliciosamente, torna as pessoas reféns e submissas a toda a estrutura social, política, religiosa e tecnológica. Elas sentem que não podem viver e ser, em detrimento do mundo, da civilização. São apenas marionetes controladas desde fora e assim, sua alma morre porque não tem mais função.
A quarta dimensão, a que chamam tempo e, que a definem a partir de uma percepção limitada e distorcida dessa mesma dimensão superior, que para ser apreciada necessita de uma evolução voluntária e consciente do psiquismo, é uma curva que se fecha sobre si mesma e inaugura para o ser humano sua noção de individualidade – o tempo é exclusivo de cada pessoa. A quarta dimensão, para ser apreciada precisa de uma evolução do ser. O motivo disso é que essa dimensão superior é pessoal, intransferível e relativamente, não compartilhável. O que se tem são cruzamentos da sua quarta dimensão com as dimensões de outras pessoas e isso define os encontros e desencontros. Quando seu “tempo acaba” o círculo se fecha e o seu futuro se torna o que foi o seu passado e o seu passado, o seu futuro – você repete, retorna ao seu próprio início. Num círculo não há inicio ou fim, antes ou depois. Sob certas condições psíquicas desenvolvidas é possível recordar e não repetir, no esquecimento.
É evidente que o tempo linear é uma distorção da realidade. Também, obrigatoriamente, tudo o que se refere ao passado, apreciado nas condições naturais de inconsciência, não passa de quimeras, de engano. Toda essa civilização está construída sobre um suposto passado, o qual é uma construção fraudulenta. Não somente porque é deliberadamente falsificado para garantir resultados específicos, mas porque o tempo é pessoal e o futuro e o passado seguem um ao outro porque estão numa curva e não numa linha reta. Quando se retorna, o passado será futuro e, o futuro, já passou.
É uma ilusão e uma pretensão desmesurada tudo o que ultrapassa nosso próprio tempo e o significado pessoal de emana dele. Se ocupar do passado ou do futuro geral é um escapismo, uma irresponsabilidade para com a própria vida, que é o tempo de cada um.
Não há nada para uma pessoa fora de seu tempo, de sua vida. Sua responsabilidade e tarefa é viver e compreender sua vida e não de outros ou da sociedade e humanidade. Os movimentos políticos, religiosos, sociais, culturais são meios hipnóticos para impedir esse olhar para dentro, para si. Somente aqueles que evoluíram e cumpriram com o seu propósito podem se dedicar a ajudar a outros. Se um homem for justo, isto é, não fizer aos outros o que não deseja para si, poderá, talvez, fazer aos outros o que deseja para si, que é a definição de amor consciente e revela a capacidade de fazer, que ademais, pressupõe um alto nível de consciência.
Pelo nosso corpo físico estamos regidos pelas leis naturais, as quais nos obrigam a respirar ar puro, tomar sol, usar água pura, ingerir alimentos próprios da espécie, trabalho físico, repouso físico, mental e fisiológico, justiça, reproduzir, a autopreservação e outras consequências naturais da nossa condição humana. A condição vital nos obriga a certas relações com o meio e com os outros humanos. Quando obedecemos as leis naturais estamos livres de doenças, de dores, de dependência, de preocupações, de leis espúrias, de governo, de estado, do passado e do futuro e, assim, só o presente nos ocupa suavemente porque cumprimos a Lei e assim, a prisão do tempo se extingue. Estamos livres para o eterno agora. As milhares de milhares de quinquilharias, parafernálias, de leis e preocupações todas desaparecem, porque são ilusões criadas pela ignorância e negligência das leis naturais. É necessário enfatizar que viver num mundo sob leis espúrias, num ambiente pervertido, tóxico, sempre forçando, usando a violência, o ilícito e o vício, é a causa da prisão ao passado e ao futuro, como entidades pseudo reais que aprisionam as vítimas descuidadas e viciadas na agonia sem fim de problemas desnecessários.
A lei do pêndulo, se aplica de forma clara sobre a questão do tempo: o pêndulo, em seu movimento tem seu repouso nas duas extremidades do movimento pendular – ele desacelera e para e volta a acelerar, passando pelo centro com velocidade máxima. Portanto, isso representa bem o que ocorre com as pessoas em sua ilusão temporal – elas raramente percebem o momento presente, que passa rápido e com sutileza no centro e sempre os extremos, no caso, o que é visto como passado e futuro, se destacam e são sentidos mais fortemente. Ademais, como geralmente a realidade é angustiante e negativa, nesta civilização que age contra as leis naturais e força coisas antinaturais sobre o humano, há uma fuga do presente e um apoio no passado como busca de causas e, especialmente, no futuro, como esperança de uma vida melhor.
Na natureza, os ciclos, a repetição de tudo, é uma lei inexorável, tudo vai e vem, cresce e mingua, flui e reflui. Os meses, anos, dias, as estações, as funções orgânicas e fisiológicas obedecem ciclos, curvas fechadas. De fato, esses ciclos representam a lei da repetição, das ondas energéticas que sobem e descem, se repetindo em suas manifestações. A vida não é, claro, uma exceção. Repetimos tudo no fim de nosso ciclo de vida e, obviamente, a quarta dimensão, a qual chamamos tempo, não é uma linha reta do passado para o futuro, passando por um presente quase inexistente e sem importância.
O tempo como a quarta dimensão do espaço, na sua forma circular, começa a se manifestar e a paz entra na vida quando vivemos o presente. Na verdade, não há nada no passado e no futuro, mas apenas o eterno agora. Se livrar da ilusão do tempo que passa, onde tudo se perde, é o inicio de uma vida significativa, real. Se há, portanto, um apoio no passado e no futuro como centro da vida social, política, científica, religiosa, justiça, isso revela um desvio da realidade, da verdade – o que é a tônica dessa sociedade.

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